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As Emoções – Ajudam ou atrapalham?

 É comum ouvirmos dizer que as emoções só servem para nos atrapalhar e que é devido às emoções que tomamos tantas decisões erradas. Será verdade?

Se analisarmos com algum detalhe, parece que realmente as emoções só nos atrapalham, que não acrescentam nada à nossa vida.

Em primeiro lugar, todos nós já fizemos coisas impensáveis e dissemos coisas que nunca imaginámos que pudéssemos dizer e que magoaram pessoas à nossa volta, pessoas que nós gostamos. E porquê? Porque estávamos alterados emocionalmente, porque estávamos com as emoções à flor da pele, porque foi no calor da emoção!

Em segundo lugar, as emoções têm uma origem primitiva. A nossa arquitetura biológica está desenhada para fazer funcionar aquilo que tem resultado melhor nas últimas gerações, é uma constante evolução adaptiva. No entanto, apenas há poucas dezenas gerações é que as coisas mudaram radicalmente e as necessidades de hoje não são as mesmas necessidades de há 200.000 anos atrás. Mas o nosso cérebro ainda é influenciado exageradamente por aquilo que funcionou melhor no tempo dos nossos antepassados caçadores-recolectores, por isso a nossa resposta primária quando algo negativo acontece é: fugir, lutar ou congelar. E embora essas respostas nos tenham feito sobreviver até aos dias de hoje, na sociedade actual podem ser respostas muito prejudiciais.

Mas esta é apenas uma pequena parte da história das emoções. Elas não fazem apenas isto, não reagem apenas com respostas limitativas aos eventos que surgem na nossa vida. Existem várias emoções e todas servem um propósito.

Existem várias teorias sobre o número de emoções básicas que existem, mas vou falar do modelo segundo Paul Ekman, que é um psicólogo americano que tem sido pioneiro no estudo das emoções e expressões faciais. Ekman identificou nos seus estudos iniciais, seis emoções básicas: Medo, Alegria, Raiva, Tristeza, Nojo e Surpresa (posteriormente também estudou o Desprezo).

Neste artigo vamos mostrar de que forma é que cada uma destas seis emoções contribui positivamente para a nossa vida.

 

O MEDO

Com o medo, a atenção concentra-se naquilo que nos amedronta e atenta pormenorizadamente no que é preciso fazer para nos protegermos ou para tentarmos enfrentar e eliminar a ameaça, ficando com um pensamento pessimista. Mas foi o medo que nos trouxe até aos dias de hoje. Sem medo, teríamos sido devorados pelos predadores pois estávamos longe de estar no topo da cadeia alimentar, sem medo não pensaríamos duas vezes antes de tomar uma decisão, não tomaríamos muitas decisões e faríamos coisas perigosas e desnecessárias. O medo decorrente da nossa vida social pode causar grandes estragos, mas também pode ser muito poderoso se utilizado a nosso benefício. As pessoas de sucesso utilizam o medo a seu favor: pensam como seria a sua vida se não fosse vivida de forma plena, se continuassem a fazer o que sempre fizeram, se não fossem bons pais, maridos, mães, mulheres. Utilizam esse medo para tomar as escolhas que têm que ser tomadas mas que muitas vezes vamos protelando.

 

A ALEGRIA

Na alegria, o nosso pensamento torna-se mais positivo, panorâmico e disperso. Pode tornar-se uma desvantagem, pois não olhamos com pormenor para as situações do dia-a-dia e algumas delas são merecedoras de um olhar mais atento. Mas este pensamento permite-nos gerar muitas ideias e encontrar soluções inovadoras para a resolução de desafios. A alegria faz-nos querer aproximar das pessoas, faz-nos arriscar mais, avançar, persistir. É a alegria que nos continua a dar vontade de viver.

 

A RAIVA

Com a raiva, a atenção foca-se no que a originou e há dificuldade em prestar atenção a outra coisa, concentrando-se toda a nossa energia numa ameaça percebida. A raiva estreita o nosso campo de visão e a nossa percepção do mundo e leva-nos à vitimização e a termos pensamentos de culpa propensos à acusação. Mas a raiva também traz grandes benefícios se for utilizada a nosso favor. Ela dá-nos energia e o foco necessário para alcançar algo ou desfazer alguma injustiça.  Por exemplo, Martin Luther King Jr utilizou a raiva como uma emoção potenciadora para lhe dar energia para defender os direitos civis dos negros nos Estados Unidos da América e ganhou o prémio Nobel da Paz em 1964 pelo combate à desigualdade racial através da não-violência. Uma forma impressionante de utilizar a raiva a nosso favor de forma positiva.

 

TRISTEZA

Com a tristeza, a nossa atenção foca-se nos pormenores e ajuda-nos a resolver os problemas que exigem concentração. Com esta emoção, temos a tendência de recordar e repisar a situação que desencadeou a tristeza. O nosso pensamento torna-se lento, repetitivo e cada vez mais negativo. Mas é a tristeza que faz-nos perceber que algo nos falta, faz-nos dar valor e importância às coisas da vida. A alegria faz-nos aproximar daquilo que gostamos, mas se não houvesse tristeza, não daríamos a devida importância. Quando perdemos alguém especial ou simplesmente quando perdemos algo que gostamos muito, sentimo-nos tristes. É aí que nos apercebemos realmente do quão importante essa pessoa ou esse algo era para nós.

 

NOJO

No nojo, a atenção dispersa-se e o pensamento torna-se negativo. Esta emoção faz-nos rejeitar prontamente aquilo que gerou o nojo. O lobo olfativo foi a primeira camada a formar-se no nosso cérebro emocional. Através do cheiro sabíamos se algo era comestível ou prejudicial. Este sistema evoluiu e incorporou-se na vida social, tendo nascido o chamado nojo social. O nojo social faz-nos afastar de coisas que não gostamos, que são contra as nossas crenças ou valores.

 

SURPRESA

Na surpresa a atenção fixa-se no estímulo responsável pelo seu surgimento e o pensamento assume-se ora positivo, ora negativo. Quando sentimos surpresa, saímos do registo neuronal que estamos, para mudar o foco para a situação que aconteceu. A surpresa permite-nos então preparar-nos mais rapidamente para as situações que ocorrem rapidamente à nossa volta.

 

Estes são alguns benefícios das nossas seis emoções básicas. Como podemos verificar, as emoções não atrapalham, pelo contrário, já que cada uma delas tem a sua utilidade e altera o nosso pensamento e nossa fisiologia para nos ajudar a adaptar à situação em questão. Agora, se não aprendermos a conhecer e a utilizar as nossas emoções, deixando que elas nos utilizem, aí sim, elas podem-nos atrapalhar em certos momentos.

 

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