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#2 Desafio 2020 – Autoestima

Chegamos a Fevereiro, segundo mês do ano e com isso, segundo desafio do ano para desenvolvermos a nossa Inteligência Emocional!

Vamos recordar o primeiro desafio deste ano:

Para este mês, o desafio vai incidir sobre a Autoestima.

Segundo Morris Rosenberg (1965), a autoestima é uma atitude positiva ou negativa em relação ao self. A característica que distingue este conceito de outros é que é visto primariamente como um conceito afetivo, estando baseado num sentimento particular, nomeadamente de valor próprio.

A autoestima pode ser vista como um continuum, estando de um lado uma baixa autoestima e do outro uma elevada autoestima. As pessoas com uma baixa autoestima tendem a experienciar mais emoções negativas, tais como ansiedade, tristeza, depressão, hostilidade, ansiedade social, culpa e vergonha (Leary, & MacDonald, 2003). No entanto, se uma pessoa tiver uma autoestima demasiado elevada, pode demonstrar alguns comportamentos não desejáveis como egocentrismo, narcisismo e até violência (Baumeister, Smart, & Boden, 1996).

Este desafio é então focado nas pessoas que queiram treinar esta competência para aumentar a sua Inteligência Emocional. Se esta competência já estiver muito desenvolvida, poderá até ser contraproducente tentar aumentar mais, tal como indicado anteriormente. O que é em excesso não tende a ser bom.

A autoestima pode envolver uma variedade de crenças, tais como a opinião sobre a nossa aparência, as emoções que temos e os nossos comportamentos. Quando as crenças sobre as nossas competências são limitadoras, podem começar a gerar sentimentos de insegurança e ansiedade e arrastar outras emoções negativas, afetando o nosso valor próprio e a nossa autoestima. Se isto for continuado, o nosso cérebro pode começar a associar estes sentimentos a outras áreas da nossa vida e a insegurança alastra-se ainda mais.

No entanto, aumentar a nossa autoestima não é uma tarefa linear. Parte do problema é que a nossa autoestima é instável, podendo flutuar diariamente e até várias vezes ao longo do dia. Adicionalmente, este conceito agrega os sentimentos globais que temos sobre nós, bem como a forma como nos sentimos em domínios específicos da nossa vida. Por fim, quanto mais significado atribuirmos a um certo domínio da nossa vida, maior é o impacto na nossa autoestima.

Por exemplo, imagina que dás muito valor à forma como cozinhas. Se fizeres um prato e alguém disser que não está bom, a força dos sentimentos negativos será muito maior do que alguém que não atribui tanto significado a esse domínio.

Desafio!

Para o desafio deste mês, cada vez que sentires que falhaste em alguma coisa ou com alguém, substitui a autocrítica pela autocompaixão. Quando o teu diálogo interno crítico entrar em cena, pergunta a ti próprio/a o que dirias a um amigo se tivesse nessa mesma situação. E depois direciona esses comentários a ti próprio/a.

Ao fazeres este exercício, irás evitar causas danos na tua autoestima com pensamentos críticos, ajudando a incrementar a autoestima pouco a pouco.

Bons treinos!

 

Autoestima - Inteligência Emocional

#12 Desafio 2019 – Otimismo

Chegamos a dezembro, último mês do ano e último desafio de 2019!

Ao longo dos últimos 11 meses, treinamos várias competências ligadas ao desenvolvimento da Inteligência Emocional. Vamos recordar os últimos desafios lançados:

Para terminar este mês, vamos treinar uma competência muito importante que serve como combustível para aumentar as nossas competências sociais e emocionais: o Otimismo.

O otimismo é a esperança e confiança sobre o futuro ou o sentimento que conseguimos atingir algo com sucesso. O otimismo também é uma das variáveis que tende a estar mais relacionada com a satisfação com a vida. Quando estamos otimistas, não só acreditamos que o futuro é risonho, mas também conseguimos pensar em coisas específicas que desejamos alcançar. Então, tende a ser fundamental para o nosso bem-estar.

Como praticamente tudo na vida, o que é em exagero não tende a ser adaptativo. Se formos excessivamente otimistas e se estivermos sempre nesse espectro, podemos ficar menos capacitados em experienciar várias emoções de teor negativo, mas que são necessárias e adaptativas a várias situações do dia-a-dia. Adicionalmente, um otimista em excesso, pode descurar dar passos concretos para resolver alguma situação problemática, pois apoia-se no pensamento de que tudo irá correr bem. Devemos desenvolver o nosso otimismo, mas sem cair no extremo do otimista cego e desenfreado. Então, quando menciono “otimismo”, é um otimismo ajustado.

No meu livro “Inteligência Emocional – uma abordagem prática“, explico um pouco a ligação que existe entre o nosso cérebro e o otimismo e o pessimismo, sendo que vou transcrever uma parte onde abordo esse assunto:

“O nosso cérebro está dividido em várias partes e uma delas é o córtex pré-frontal, uma zona do cérebro que está localizada mesmo atrás da nossa testa. Dentro do córtex pré-frontal, temos também o córtex pré-frontal esquerdo e o córtex pré-frontal direito. Inúmeros estudos demonstram que, cada vez que temos um pensamento positivo, generoso ou de gratidão, o córtex pré-frontal esquerdo se ilumina. Por outro lado, cada vez que temos um pensamento negativo, pessimista ou depressivo, é o córtex pré-frontal direito que se ilumina.

Ao longo do dia, consoante os tipos de pensamento que vamos tendo, o córtex pré-frontal vai-se iluminando entre estas duas zonas. E quanto mais uma zona acende, mais o cérebro a grava como sendo a nossa preferência, enviando pensamentos e procurando evidências no mundo exterior para a reforçar. O cérebro não sabe se esses pensamentos e essas evidências do mundo exterior vão fazer-nos bem ou mal. O cérebro apenas sabe que são a nossa preferência, logo vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para que a nossa preferência seja respeitada e repetida.

Então, isto quer dizer que uma pessoa que se foque no negativo várias vezes ao longo do dia está a dizer ao cérebro que se foque mais no negativo, e este vai enviar-lhe pensamentos e vai procurar evidências negativas no mundo exterior, fazendo com que a pessoa pense e se foque ainda mais no negativo. Começa o efeito bola de neve destruidor.

A chave para desligar as emoções negativas parece estar mesmo localizada no córtex pré-frontal esquerdo. Neurocientistas que estudam os humores em pacientes com lesões nos lobos pré-frontais determinaram que uma das tarefas do lobo pré-frontal é agir como um termóstato neuronal, regulando as emoções desagradáveis. O córtex pré-frontal direito alberga sentimentos negativos, como o medo e a agressão, enquanto o córtex pré-frontal esquerdo controla essas emoções, provavelmente inibindo a parte direita.

Num grupo de pacientes que tinham sofrido AVC (acidente vascular cerebral), aqueles cujas lesões se situavam no córtex pré-frontal esquerdo tinham mais preocupações e medos e aqueles cujas lesões se situavam no córtex pré-frontal direito eram até indevidamente alegres (Gainotti, 1972).

Num dos casos estudados, um homem teve o lobo pré-frontal direito parcialmente removido após uma cirurgia, devido a uma malformação no cérebro. Após a operação, a sua mulher disse aos médicos que ele tinha tido uma mudança de personalidade dramática, ficando menos facilmente irritado e mais afetuoso (Morris, M.K., et al., 1991).

A amígdala age como um gatilho de emergência, mas o córtex pré–frontal esquerdo parece ter capacidade de desligar as emoções perturbadoras. Esta é uma excelente arma que temos para aprender a lidar com a negatividade da vida.”

Sabemos agora que o córtex pré-frontal esquerdo desempenha um papel importante em experienciar emoções positivas. Então, de forma a gerarmos atividade no córtex pré-frontal esquerdo com mais frequência e aumentar o nosso otimismo, uma das formas é expormo-nos, com intenção, a estímulos e situações que nos sejam prazerosos.

Para este desafio e com uma frequência diária, pensa em formas para criar uma experiência agradável para fazeres no dia seguinte. Por exemplo, pode ser ver um episódio de uma série, ir beber um café com um amigo, fazer alguma atividade com alguém que gostes, descansar, comer uma certa refeição, ver um certo vídeo ou algo do género. Escolher algo com intenção, pensar nisso e fazê-lo, dá-nos mais satisfação do que quando fazemos apenas sem pensarmos, em modo automático.

Bons treinos e um excelente último mês de 2019!

inteligência emocional - otimismo

 

Como Trabalhar com Colegas que Parecem Estar “SEMPRE” Stressados?

Todos nós conhecemos colegas que parecem estar constantemente stressados – que afirmam estar enterrados em trabalho, sobrecarregados com projetos e sem um minuto de sobra, certo?

E na grande maioria das vezes, esses colegas tornam o ambiente de trabalho mais difícil, certo?

Pois é, mas como na grande maioria das vezes não podemos escolher os colegas e temos que trabalhar com eles à mesma, seguem algumas estratégias para lidares com os teus colegas, (vamos chamar-lhes de Colegas Em Stress – CES), ajudando-os a diminuírem a carga cognitiva e a te protegeres do contágio emocional tóxico.

Mas antes, importa primeiro perceber que o stress faz parte do dia-a-dia e que a capacidade de resistência/tolerância varia de pessoa para pessoa. Para certas pessoas, por variadas razões, o seu comportamento em stress torna-se o padrão habitual de comportamento. No entanto, não podemos encarar esses colegas como uns vilões ou simplesmente ignorá-los.

 

Deixamos aqui algumas estratégias para que possas utilizar.

Estratégia #1 – Não Julgues

Tal como já mencionado, a resistência/tolerância ao stress varia de pessoa para pessoa. O que é stress de nível elevado para ti, pode ser estimulante para outra pessoa. E, por essa razão, considerar a forma como a outra pessoa lida com o stress como “inadequada”, apenas gera tensão no ambiente de trabalho, principalmente quando associamos essa disposição a uma falha de caráter, em vez de vermos isso como uma caraterística.

 

Estratégia #2 – Reconhece a Causa do Stress

É fundamental para o CES sentir-se “visto e ouvido” no local de trabalho. Então, podes começar por reconhecer esse facto, dizendo algo como “Tenho notado que tens ficado até mais tarde a trabalhar nos últimos dias. Como é que vão as coisas?” e mesmo que o colega volte a discursar sobre todos os problemas e pressões que tu já sabes de cor, tenta reconhecer o que ele está a passar, dizendo algo como: “Não deve ser nada fácil”.

Não importa se tu achas que é fácil ou difícil, isto não é sobre ti. Para o CES não está a ser fácil e é isso que precisas validar. Ao reconheceres o esforço do CES e validares as suas fontes de stress, dá-te proximidade para ires mais longe na tua ajuda.

Atenção! Não deves “ativar” o CES com comentários do tipo “Não sei como tu aguentas isto!”, “Estão a abusar de ti!”. Isso não ajuda, porque estás a aumentar a carga cognitiva do CES. Se tiveres que fazer algum comentário para reforçar a validação tenta usar comentários neutros “Estás responsável por muitas coisas ao mesmo tempo”.

 

Estratégia #3 – Oferece Louvor

Uma das melhores maneiras de tirar o CES do modo luta ou fuga, é oferecendo-lhe um elogio.

Quando as pessoas sentem stress elevado, o sentimento de dúvida sobre a sua competência para desempenhar uma dada tarefa é igualmente elevado. Uma forma de ajudar o CES a recuperar a sua autoconfiança e controlo sobre a situação, é relembrando-lhe as suas conquistas, competência e pontos fortes. Mas para isto funcionar, deves referir algo específico que tenha acontecido, em vez de algo genérico.

Elogiar o desempenho de alguém no local de trabalho, de forma genuína e bem-intencionada, é uma intervenção poderosa na autoimagem dessa pessoa. Quando nós dizemos às pessoas como nós as vemos, elas aceitam e abraçam esse papel com mais facilidade.

 

Estratégia #4 – Oferece a Tua Ajuda/Perspetiva

Oferecer a nossa ajuda é sempre uma boa estratégia, mas deve ser usada com cuidado.

Nem sempre conseguimos ser grande ajuda, quando oferecemos ajuda, mas o simples ato de perguntar se podemos ajudar, muda o foco da outra pessoa para a busca de soluções e sente-se que não está por conta própria.

O ato do CES em decidir que não precisa de ajuda, dá-lhe maior ideia de controlo sobre as tarefas que tem por fazer, diminuindo a carga cognitiva.

No entanto, convém que o CES perceba que a tua oferta de ajuda é limitada e destina-se àquele momento e que não é um convite geral que pode ser usado a qualquer hora. A mensagem deve ser do género “Sou um recurso limitado e há coisas que não estou a par, mas quero ajudar-te se não conseguires dar conta de tudo”.

 

Estratégia #5 – Divide as Tarefas em Pequenas Partes

Ao lidar com um CES, é de extrema importância ajudá-los a reduzir a carga cognitiva, não através da perpetuação do facto de estarem sobrecarregados, mas sim dividindo as tarefas em partes mais fáceis de gerir.

Por exemplo, caso tenhas que passar trabalho a um CES, em vez de enviares um e-mail com toda a informação e todas as tarefas necessárias, envia a informação por etapas ou ajuda o colega a dividir as grandes tarefas, em tarefas mais pequenas, organizadas por prioridades, e mais fáceis de gerir.

O objetivo é tirar partido da capacidade de trabalho do colega e para isso é preciso reconciliar diferentes formas de trabalho ou transmitir práticas que podem ser úteis em momentos-chave.

 

Estratégia #6 – Ajuda-o a Refletir

Se a ansiedade do teu CES parecer estar a influenciar a sua capacidade de concentração (e estás genuinamente preocupado com o bem-estar dele), então ajuda-o a refletir sobre a sua situação.

Numa escala de 1 a 10, pergunta-lhe como ele se sente em termos de stress em relação a uma tarefa especifica. Para além de o obrigar a refletir e isso ajudar a baixar a intensidade do que sente, pode também ajudar a que fale sobre o que lhe está a causar stress e assim desconstruírem o objeto de stress.

O bom de pedir para ele refletir na situação, é que muitas vezes percebemos que as verdadeiras razões poderão não estar relacionadas com o trabalho, mas sim com um problema pessoal. O desabafo do problema diminui a tensão sentido pelo CES e o ato de compreender o comportamento/reação do colega faz diminuir a tensão e o impacto que a postura dele causa em nós.

 

Estratégia #7 – Distanciamento Físico/Psicológico

Apesar de querermos muito ajudar um CES, temos que estar atentos à nossa autoconsciência para percebermos o efeito que esse colega está a ter em nós.

Importa relembrar que as emoções são contagiantes e podem ser tóxicas e drenarem-nos. Caso estejas junto de um CES que te contagie com emoções tóxicas e que te drenam, é necessário criares algum distanciamento e limitares as tuas interações com essa pessoa.

Nem sempre é fácil, principalmente se estão juntos nos mesmos projetos ou até na mesma ilha de trabalho. Mas uma coisa é certa, em tudo há um lado negativo e um lado positivo. Procura o lado positivo da situação em que estás envolvido e foca-te nesse ponto.

 

Resumidamente

A fazer:

  • Oferece suporte emocional perguntando se há algo que podes ajudar. Oferece também a tua perspetiva de como te organizarias se estivesses no lugar dele;
  • Melhora a autoimagem profissional do teu colega relembrando-o das suas conquistas, competências e pontos fortes em momentos específicos;
  • Pensa em formas de diminuir a carga cognitiva do teu colega, como por exemplo, dividindo o trabalho em pequenas tarefas mais facilmente geríveis.

 

O que não fazer:

  • O teu colega pode expressar stress de forma diferente da tua, mas isso não se traduz numa falha de caráter;
  • “Espicaçar” a pessoa. Deves reconhecer o stress, mas não deves ativar essa carga cognitiva no teu colega;
  • Pensar em como mudar essa pessoa. Pensa sim em ajudá-lo a desconstruir as fontes de stress e em como o farias se fosse contigo.
  • Permitir que sejas “sugado” pela carga tóxica e drenante do teu colega.

 

Tradução adaptada de https://hbr.org/2017/08/how-to-work-with-someone-whos-always-stressed-out?fbclid=IwAR2wMHvC6GMEryzX5USdhY11x18TideeSq4r-bXe45Uds1O5sfiHiwIbouE

#1 Desafio 2019 – Autoconsciência

Ano novo, desafios novos!

Em 2017 iniciámos os nossos desafios mensais, para que quem nos acompanha pudesse treinar a sua Inteligência Emocional. Uma das dificuldades em desenvolver as nossas competências socioemocionais, é a falta de foco no que treinar e quando treinar.

Desta forma, podemos nos focar numa competência chave em cada mês, e com isso, aumentar a nossa Inteligência Emocional.

Para o primeiro desafio de 2019, vamos treinar a nossa Autoconsciência. A autoconsciência representa a capacidade de nos tornarmos o objeto da nossa própria atenção. É a pedra pilar da Inteligência Emocional, portanto é a primeira competência que devemos treinar.

O sociólogo George Mead (1934), propôs uma distinção clássica entre focar a atenção para fora do ambiente (consciência) e focar a atenção para dentro (autoconsciência). Podemos ser conscientes, mas faltar-nos autoconsciência.

Como diz o provérbio Africano: “Se não existir um inimigo interior, o inimigo exterior não nos consegue fazer mal”. Se nos conhecermos bem, se entendermos as nossas reações emocionais, os nossos gatilhos, o que nos move, como fazer para aumentar as nossas emoções positivas e regular as nossas emoções negativas (ou mesmo intensificá-las, se for necessário), conseguimos ter uma resposta muito mais ativa sobre o meio que nos envolve, não sendo tão afetados pelo mesmo.

A nossa capacidade de refletir sobre nós próprios facilita a navegação no meio social. Uma das vantagens de trabalhar a nossa autoconsciência, liga-se a uma melhoria na nossa autorregulação. Porque para aplicar estratégias de regulação emocional eficazmente, precisamos de estar conscientes que aspetos precisam ser modificados.

No nosso local de trabalho, a autoconsciência é também de extrema importância. Os psicólogos organizacionais Cary Cherniss e Robert Caplan revelaram que o ensino de competências de consciência emocional a consultores financeiros da American Express Financial Advisors, que aprenderam a identificar as suas próprias reações emocionais em situações de desafio e a ficarem mais conscientes das conversas interiores improdutivas, que originavam insegurança e vergonha, resultou num aumento de receitas por consultor. Essa consciência emocional permitiu-lhes usar estratégias para lidar com os problemas e, puderam assim, ser mais eficazes no trabalho, gerando mais rendimentos para si próprios e, presumivelmente, aconselhando melhor os clientes (Chermiss & Goleman, 2001).

Uma das formas de treinarmos a nossa autoconsciência, é monitorizarmos o nosso discurso interior. Para o desafio deste mês, presta atenção a como respondes aos teus sucessos e aos teus fracassos: costumas atribuir apenas o fator sorte aos teus sucesso e criticas-te pelos teus fracassos? O tipo de discurso interior que temos, tende a retornar em forma de feedback, alimentando esse próprio discurso. Fica atento/a e monitoriza o teu discurso.

 

 

Referências bibliográficas

Chermiss, C. & Goleman, D., 2001. The Emotionally Intelligent Workplace: How to Select For, Measure, and Improve Emotional Intelligence in Individuals, Groups, and Organizations. s.l.: Jossey-Bass.

A Nossa Perceção dos Outros Tem Uma Ligação ao Nosso Bem-estar Emocional

Vamos imaginar que dois amigos, a Ana e o António, conhecem uma nova pessoa: o João. Passam algumas horas com o João, falam de vários temas e despedem-se. No caminho de volta para casa, a Ana diz ao António que adorou conhecer o João, que era uma pessoa muito simpática, informada e entusiasta. No entanto, o António responde que ela está errada, pois o João claramente era uma pessoa falsa, que estava apenas a representar e que quando estivesse sozinho, iria falar mal deles.

Quando conhecemos alguém novo, é comum termos opiniões diferentes da mesma pessoa e por vezes contrárias, como neste exemplo. Então quem será que tem razão? Será que algumas pessoas são exímias em conseguir, com base numa primeira impressão, fazer uma leitura precisa da outra pessoa? E porque é que somos capazes de ter tantas avaliações diferentes da mesma pessoa, dos mesmos comportamentos?

Dusting Wood, da Wake Forest University, Peter Harms da University of Nebraska e Simine Vazire da Washington University, fizeram um estudo sobre a avaliação da perceção dos outros e chegaram a uma conclusão muito interessante (Wood, Harms, Vazire, 2010).

Os resultados do estudo mostraram que como nós percecionamos os outros no nosso meio, revela mais sobre a nossa personalidade, do que efetivamente algo sobre os outros. E quando os autores analisaram os resultados, estes foram muito mais longe do que uma mera projeção da autoimagem de um individuo na outra pessoa. A forma como percecionamos os outros, vai mais longe que isso, pois pode indiciar os nossos próprios traços de personalidade e possíveis distúrbios.

Os indivíduos que percecionavam os outros mais positivamente, reportaram maior afabilidade e menor hostilidade, maior satisfação com a vida e menores medidas associadas a distúrbios de personalidade, depressão e atitudes antissociais.

Adicionalmente, outra conclusão interessante, foi que estes indivíduos, tinham ainda mais probabilidade de serem avaliados positivamente pelo grupo que avaliaram e descreviam as suas experiências no grupo mais positivamente. Então, a forma como os outros eram percecionados, determinava a forma como este eram percecionados pelos outros, bem como experienciavam a situação. No nosso dia-a-dia, podemos estar numa situação social (jantar, convívio, com colegas de trabalho, etc) e não gostamos da experiência, indo buscar argumentos para suportar essa nossa conclusão. No entanto, o que este estudo aponta, é que muitas vezes esse processo todo inicia-se em nós, na nossa perceção. Não foi o convívio que foi mau, foi por nós termos percecionado as outras pessoas mais negativamente, logo ao início, que tornou o convívio mais desagradável.

Embora não tenha sido possível atribuir a direção causal destas relações, a investigação indicou fortemente que o quão positivo nós percecionamos os outos num grupo, tem uma relação importante com as nossas emoções, bem-estar, objetivos, valores e atitudes.

Outro dado fascinante, foi que, embora alguns investigadores discutam que cada distúrbio de personalidade possa ter o seu conjunto específico de viés cognitivos (Beck et al., 2004), este estudo verificou que vários distúrbios de personalidade estão associados apenas a uma dimensão: o quão positivos os outros são avaliados por nós. Então, a nossa perceção dos outros, aparenta ter uma importância tão extrema, como ser um próprio sinal de possíveis distúrbios de personalidade nossos.

Os investigadores deste estudo apontam duas enormes implicações desta descoberta:

  1. Em primeiro lugar, percecionar os outros como pouco amistosos, não confiáveis, infelizes e desinteressantes, pode ter como base um conjunto de cognições negativas que agem como causa comum também a distúrbios de personalidade.
  2. Em segundo lugar, se as perceções negativas de outros podem estar por trás de vários distúrbios de personalidade, então trabalhar a nossa perceção dos outros, de forma a vê-los de forma mais positiva, pode ajudar a reduzir os padrões comportamentais associados a diferentes distúrbios de personalidade.

 

Referências bibliográficas

Beck, A. T., A. Freeman & D.D. Davis (2004). Cognitive Therapy of Personality Disorders (2nd ed.). New York, N.Y.: Guilford Press.

Wood, D., Harms, P., & Vazire, S. (2010). Perceiver effects as projective tests: What your perceptions of others say about you. Journal of Personality and Social Psychology, 99(1), 174-190.

 

Só Vemos Aquilo Que Queremos Ver

Há uma tendência no ser humano para procurar informação que seja consistente com as suas hipóteses e crenças e evitar a informação que o contrarie e que vá contra aquilo que acredita, ou seja, o ser humano tem um enviesamento para a confirmação.

Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo, disse que o que o ser humano é melhor a fazer, é interpretar toda a nova informação de forma a que as suas conclusões anteriores permaneçam intactas.

Quando temos uma ideia formada, procuramos informação que confirme essa visão, e ao mesmo tempo, ignoramos e rejeitamos informação que possa lançar dúvidas sobre essa ideia. Então, tornamo-nos prisioneiros das nossas crenças, não analisando a informação de forma racional.

Vemos no dia-a-dia inúmeros exemplos do enviesamento para a confirmação. Por exemplo, uma pessoa com uma baixa autoestima, fica sensível ao facto de poder ser ignorada por outras pessoas. Essa pessoa, vai procurar constantemente por sinais que mostrem que as pessoas não gostam dela. E os sinais que mostram o contrário, não vão ser processados da mesma forma. Mesmo um comportamento neutro ou positivo, pode ser reinterpretado de forma a encaixar-se nas crenças que as pessoas não gostam dela. Por exemplo, se alguém sorrir para ela, pode pensar que está a rir dela.

No local de trabalho, este enviesamento também se torna uma autoprofecia. Um líder que pense que o seu colaborador não é dedicado, inteligente ou profissional, vai estar atento à informação que vá ao encontro dessa crença, reforçando a mesma. A informação que não se adapte a essa ideia, será descartada ou mesmo reinterpretada, de forma a encaixar-se na sua crença.

Se projetarmos esta estratégia de enviesamento do cérebro, conseguimos ver o porquê dos debates infrutíferos de vários temas. Se pegarmos no tema quente da ciência contra a religião, vemos como a informação é reinterpretada constantemente à medida de cada crença. A existência dos dinossauros é um bom tema de debate. Por um lado, temos a ciência a indicar através da análise de fósseis, que não é possível que a vida tenha começado com Adão e Eva. Por outro lado, temos a religião a indicar através da Bíblia, que os dinossauros possam ter existido em conjunto com Adão e Eva. Mas mesmo dentro da religião, temos vários tipos de análises, desde alguns que indicam que muitas histórias são metáforas, até outros que utilizam partes da Bíblia para mostrar que já estava tudo escrito. A mesma informação, tem análises diferentes e reinterpretações diferentes, de forma a se ajustarem às nossas crenças.

Um dos motivos que temos este enviesamento, é que o nosso cérebro tem a função de otimizar energia. Aceitar a informação que confirma as nossas crenças, requer pouca energia mental. Por outro lado, contradizer informação, requer um maior esforço e energia mental.

Outro grande motivo, deve-se à necessidade do cérebro em manter uma consistência cognitiva, lutando contra a dissonância cognitiva. A dissonância cognitiva acontece quando existe um conflito entre a informação que recebemos, as nossas atitudes, crenças ou comportamentos. Esta dissonância produz um sentimento de desconforto, levando à alteração das nossas atitudes, crenças ou comportamentos, de forma a reduzir esse desconforto e recuperar a harmonia e consistência cognitiva.

Este efeito de dissonância cognitiva foi investigado primeiro pelo psicólogo Leon Festinger, em 1957. Ele observou um culto que acreditava que a terra seria destruída, vendo vários membros a despedirem-se dos seus empregos e até a deixarem as suas famílias. Quando se verificou que o mundo não tinha sido destruído, aqueles crentes mais comprometidos não analisaram a situação de forma racional, apercebendo-se que tinham sido enganados. Por outro lado, eles reinterpretaram a informação, para confirmar que estavam certos. Para eles, a terra não tinha sido destruída, por causa da sua fé inabalável. O mundo foi salvo graças a eles.

Esta observação foi um ponto chave para que Festinger elaborasse a teoria da dissonância cognitiva, que nos mostra um dos motivos pelo qual temos o enviesamento para a confirmação.

Mas não é isso que nós acreditamos. Se perguntarmos às pessoas se analisam a informação de forma enviesada, reinterpretando a mesma com base naquilo que acreditam, a maior parte irá dizer que não, que isso é ridículo. Vemo-nos como pessoas inteligentes e racionais.

Então como é que reduzimos este enviesamento? O primeiro passo, é admitir que o fazemos, ganhando consciência sobre ele. E depois, podemos reduzir o nosso enviesamento, se abordarmos a vida com curiosidade. Em vez de tentarmos provar que temos razão em todas as interações, devemos focarmo-nos em experienciar e viver a vida com curiosidade. Quanto estamos dispostos a estar errados, abrimo-nos a novas ideias e aprendizagens e aumentamos a nossa flexibilidade mental.

Carol Dweck, psicóloga da Universidade de Stanford, fez um estudo com dois grupos de crianças numa escola. O primeiro grupo devia evitar problemas difíceis, porque tinha um risco elevado de errarem. O segundo grupo, devia ativamente abordar esses problemas e encará-los como uma oportunidade de aprendizagem, mesmo que falhassem. O estudo revelou que o segundo grupo superou o primeiro consistentemente.

O enviesamento de confirmação é uma parte inevitável de como tomamos decisões. É um traço evolutivo e como o nosso cérebro opera. Mas se estivermos consciente que temos este enviesamento e focarmo-nos em viver a vida com curiosidade em vez de tentarmos ter sempre razão, vamos conseguir tomar decisões muito mais benéficas e saudáveis, para nós e para os outros.

Sentes que não és valorizado no teu local de trabalho, mas gostas do que fazes?

Se não te sentes valorizado no teu local de trabalho, antes de pensares em mudar de emprego, tenta estas 5 abordagens. Não tens a nada a perder, certo?

Em primeiro lugar, não há nada pior do que uma pessoa sentir que a sua presença é indiferente no local de trabalho. Todos os seres humanos necessitam de sentir apreço pelos seus esforços e quando não sentem, instala-se um sentimento de não pertença. Por isso, não ignores o que sentes, analisa!

  1. Sê Realista

Antes de colocares em prática qualquer ação, usa a tua autoconsciência emocional para analisares se estás a ser realista quanto à quantidade de apreciação que esperas do/a teu/tua chefe, colegas, pares ou mesmo clientes. Isto porque, cada vez mais as pessoas andam ocupadas e acabam por dar menos feedback do que seria (deveria ser) suposto.

Faz uma prova dos nove e questiona-te sobre os seguintes pontos:

  • O meu trabalho foi extraordinário?
  • O meu trabalho foi consideravelmente superior aos que os meus pares tipicamente fazem?
  • Se eu tivesse que pedir crédito pelo resultado deste trabalho, faria “figura triste”?

Caso não consigas responder a estas perguntas, recomendamos que procures a opinião de alguém do teu local de trabalho, da tua confiança e de preferência mais sénior que tu.

  1. Fala com o/a Chefe

Se geres uma equipa de trabalho, faz parte da tua função identificar e mencionar o que o teu grupo de trabalho faz e como ele é importante. Isto porque, na confusão do dia-a-dia, por vezes os nossos superiores hierárquicos, colegas ou clientes não fazem a mínima ideia do esforço e dedicação que são necessários para elaborar e coordenar certas tarefas e/ou materiais de trabalho. Por isso, necessitam de ser (re)lembradas, mas de forma casual.

Qualquer apresentação ou relatório feito ou objetivos atingidos deve-se sempre mencionar o nome das pessoas (ou a equipa) responsáveis pela concretização dos mesmos. O objetivo é que o resultado do esforço coletivo ou individual não passe despercebido e que não seja escondido. E não tenhas medo de dar crédito à tua liderança. Às vezes, queremos ser tão inclusivos e somos tão receosos de falarmos sobre aquilo que em somos bons, que acabamos por deixar passar oportunidades. A assertividade é uma ferramenta poderosa.

Por exemplo, “Eu consegui que as metas X e Y fossem cumpridas e não as conseguiria ter feito sem o suporte das pessoas/da equipa A e B pelo qual estou grato/a.”

  1. Reconhece a contribuição dos outros

Uma estratégia para que reconheçam o teu trabalho é reconheceres o trabalho dos outros. É um paradoxo, mas funciona. Ao ser uma pessoa que aprecia e nota que o trabalho dos outros está bem feito, expressando-o, tornas-te num agente de mudança na cultura organizacional da tua empresa. Isto porque, as pessoas que se sentem apreciadas por ti, passem igualmente a apreciar o teu trabalho e a expressarem-no de igual forma. E isso cria igualmente uma sensação de união e otimismo que melhorará as relações interpessoais.

  1. Valoriza-te

Atenção! Ser valorizado pelos outros é fantástico, mas não podemos esperar que toda a nossa motivação venha de honras, elogios e gratidão pública. Aspetos motivadores intrínsecos são muito mais poderosos! Se tiveres possibilidade, mete uns dias de férias e reflete sobre a importância do trabalho para ti e procura quais os aspetos da tua vida que são realmente importantes para ti e qual o significado de cada um desses aspetos.

É cliché, mas é verdade. O verdadeiro reconhecimento vem de dentro. Se não valorizas o que fazes, não há elogio no mundo que preencha esse vazio. A autoestima nunca pode ser esquecida!

Ao fim de cada semana de trabalho reflete sobre o que correu bem e o que não correu tão bem e não caias no abismo de focares apenas na parte que não correu tão bem. Cataloga as vitórias!

  1. Considera seguir em frente

Se tentaste tudo isto (tentar mesmo!) e continuas a não te sentir apreciado no teu local de trabalho, isso pode ser um sinal que, mesmo que sejas a pessoa certa para aquela empresa, aquela empresa não é a melhor para ti.  A maioria de nós mantém-se num emprego que não é perfeito por múltiplas razões e muitas são válidas. Mas se realmente queres uma nova experiência e sentes que é a única alternativa, então procura uma nova oportunidade. Mas fá-lo com calma e com critério!

 

O mais importante de tudo, caso não sejas tu quem se sente invisível no local de trabalho, mas sabes que tens pessoas que trabalham contigo ou para ti que se sentem assim, não te podes esquecer que há pessoas que necessitam de ser mais validadas que outras. E a motivação começa tendo a atitude correta!

E se queremos que as pessoas deem sempre “a milha extra” e que “vistam a camisola”, porque não criar pequenos comportamentos, tais como o feedback construtivo, que façam as pessoas sentirem-se valorizadas e acompanhadas junto das suas hierarquias, pares e clientes?

Faz esta pergunta final “Quem na minha equipa ou do meu ambiente de trabalho necessita agora mais validação e valorização?”

 

 

Inspiração: https://enterprisersproject.com/sites/default/files/feel_valued_at_work.pdf

#4 Desafio 2018 – Resiliência

Chegamos ao mês de Abril e é tempo de lançarmos o nosso 4º desafio mensal para desenvolver a nossa Inteligência Emocional!

Os outros três desafios mensais, foram os seguintes:

Este mês o desafio é sobre a Resiliência, uma categoria que trabalhamos no treino da Inteligência Emocional. 

A Resiliência é a capacidade de um indivíduo se adaptar perante uma situação adversa. Em vez de se deixarem ir abaixo perante os obstáculos que a vida lhes joga, as pessoas com uma maior resiliência conseguem recuperar e voltar mais fortes do que antes. Os psicólogos têm vindo a estudar este tema há várias décadas, não existindo uma única definição ou um único factor que envolve a Resiliência. No entanto, as pessoas que têm uma atitude mais positiva perante a vida, são mais otimistas, regulam melhor as suas emoções e olham para o falhanço como uma forma de feedback em vez como uma derrota final, tendem a apresentar uma maior resiliência.

Joshua J. Marine disse “Os desafios são o que fazem a vida interessante; ultrapassá-los é o que dá significado à vida.”. Esta é uma visão de alguém resiliente. Quando somos confrontados com um problema, a maioria das pessoas olha para o problema como um ataque a elas, como algo que está a impedi-las de avançar e de conseguirem o que querem. Esta mentalidade dá mais intensidade ao problema e prejudica o seu progresso, enfraquecendo a sua resiliência.

Vamos imaginar que uma pessoa no seu emprego recebe uma crítica do seu chefe sobre o seu desempenho. Se essa pessoa olhar para a crítica como uma problema, como uma crise, então vai sentir raiva do seu chefe e pode prejudicar o esforço necessário à melhoria do trabalho. Se, por outro lado, analisar a crítica e ver em como pode melhorar e ultrapassar, vai gerar um estado de maior energia e motivação, que vai ser empregue na melhoria do seu trabalho, saindo mais forte dessa situação. A nossa interpretação da situação vai invariavelmente afetar o nosso comportamento e consequentemente, o nosso resultado.

Com isto em mente, vamos lançar o desafio do mês de Abril!

O nosso dia-a-dia encontra-se repleto de situações com uma carga emocional mais elevada. No entanto, a mesma situação pode ser encarada como uma crise para um indivíduo ou como um desafio para outro indivíduo. Diferentes interpretações, geram diferentes respostas emocionais, que geram diferentes comportamentos.

Durante esta semana, quando te deparares com uma situação mais adversa, pensa nos seguintes pontos:

  • Eu estou a interpretar esta situação como uma crise ou como um desafio?
  • O que é que posso fazer para influenciar esta situação?

Bom treino!

 

 

O Problema com os Problemas

“Foca 90% do teu tempo em soluções e apenas 10% do teu tempo em problemas.” 

Anthony J. D’Angelo

Durante a corrida ao espaço entre os Estados Unidos da América e a Rússia, reza a história que existiu um problema com o facto dos astronautas não conseguirem escrever no espaço utilizando canetas, pois a tinta não funcionava num ambiente sem gravidade. A NASA focou-se no problema da tinta e investiu vários anos e milhões de dólares, até conseguir uma caneta que funcionava num ambiente sem gravidade e em qualquer superfície. A Rússia, por outro lado, focou-se na solução e substituiu a caneta por um lápis.

Esta história tem muitas versões e alguns consideram um mito, mas a mensagem implícita não deixa de ser importante: se nos focarmos apenas no problema, vamos tirar foco à solução, prejudicando o resultado final.

O problema com os problemas é que ficamos a pensar no problema e isso não nos ajuda a resolvê-lo. Quanto mais tempo passamos com o problema, menos tempo vamos pensar na solução.

Existe uma diferença entre focarmo-nos no problema ou focarmo-nos na solução. Primeiro, quando nos focamos na solução, preparamos o cérebro para receber informação relevante para o resultado que queremos, em vez de focarmo-nos na informação sobre o problema.

Vamos imaginar que saímos tarde de uma formação e precisamos de apanhar um táxi para ir para o aeroporto. Como já saímos tarde, o voo está próximo e podemos perdê-lo se não nos despacharmos. Se sairmos para a rua e pensarmos no problema (não chegar ao aeroporto a tempo), estamos a programar o nosso cérebro para procurar informação sobre o não chegar ao aeroporto, vendo mais coisas que nos incomodem e aumentando o nosso stress. Se, por outro lado, pensarmos na solução (apanhar um táxi), o nosso cérebro vai estar à procura de informação que nos ajude a apanhar um táxi. Vai detectar mais táxis na proximidade, pensar se existe ou não uma praça de táxis, pensar noutras soluções, como ligar para a central ou pedir a alguém da zona que nos indique onde podemos apanhar um táxi.

Outro problema em focarmo-nos no problema, é que muitas pessoas dizem que podem estar a pensar no problema e na solução em simultâneo, utilizando o multitasking. Mas, embora o multitasking seja um termo muito falado, vários estudos têm mostrado que o mesmo tende a ser ineficiente, a não ser em situações muito específicas. Isto acontece porque o nosso cérebro é monofocal e não multifocal. Ou seja, pode parecer que temos vários focos ativos ao mesmo tempo, mas o que temos é um foco a mudar rapidamente entre situações. Apenas em situações em que sejam feitas atividades que recorram a áreas diferentes, tais como mexer num objeto, enquanto pensamos noutra coisa, é que diferentes regiões cerebrais geram atividade em simultâneo. No entanto, mesmo nessas condições, o que os estudos imagiológicos têm vindo a demonstrar é que a área total das regiões cerebrais ativadas durante esse multitasking, é inferior às regiões cerebrais de cada atividade somada de forma individual. Então, nunca utilizamos os recursos em pleno dessa forma.

Isto significa que se estivermos focados no nosso problema, vamos ver menos a solução, aumentando o nosso problema.

Adicionalmente, quando nos focamos no problema, vamos estar a ativar emoções conectadas a esse problema, que vai gerar mais ruído no cérebro, impedindo-nos de dar a clareza cognitiva que precisamos. Se nos focarmos na solução, geramos uma resposta emocional mais propensa à ação, a queremos executar algo. É um estado de proximidade em vez de afastamento, fazendo com que aumente os níveis de dopamina, a hormona da motivação e que também nos ajuda na nossa aprendizagem.

Na vida pessoal e profissional, os problemas surgem normalmente. Mas se ficarmos a olhar para eles, perdemos a nossa capacidade de pensamento crítico e de procura de soluções. É necessário mudarmos o foco e concentrarmo-nos na solução. O nosso cérebro reage às palavras que dizemos, pelo que muitas pessoas optam por redefinir a palavra “problema” em “desafio”. Se dissermos “isto é um problema”, podemos verificar que reagimos automaticamente de forma diferente do que quando dizemos “isto é um desafio”. Nós gostamos de desafios, mas de problemas, nem tanto.

Então, para conseguirmos tomar melhores decisões e tornarmos-nos mais resilientes perante os problemas/desafios, devemos seguir os seguintes passos:

  1. Olhar para o problema/desafio para identificá-lo
  2. De seguida, mudar o foco na procura da solução. Desta forma, vamos ter um estado emocional muito mais benéfico  e o nosso cérebro vai estar ativamente à procura de informação no meio, que nos ajude a obter o resultado que queremos.

O Efeito do Meio na Nossa Genética

Há algumas décadas atrás, pensava-se que a genética determinava totalmente a nossa forma de ser, estar, a nossa personalidade e os resultados que iriamos ter na vida. Entretanto, surgiram outras correntes de pensamento que diziam que era o meio que ditava como nos iriamos tornar. Diziam que nascíamos como uma tábua rasa, uma tábua em branco, sem qualquer informação e que aprendíamos tudo com a nossa interação com o meio.

Esta luta de ideias deu historicamente o debate entre a genética e o meio. Só a partir de década de 90, com recurso a ferramentas imagiológicas que permitiram analisar a atividade do cérebro e com novos estudos experimentais, a resposta apareceu.

A genética tem um peso e influencia como nos iremos tornar. Mas, não determina. O meio em que estamos inseridos e as nossas experiências passadas têm um peso determinante no resultado da nossa vida.

O que a ciência descobriu recentemente é que a mera presença de um gene não é suficiente para determinar se iremos ter aquele traço ou não. Um gene também tem que ser ligado ou desligado. Estudos feitos têm vindo a mostrar que as experiências que temos podem ligar ou desligar genes. Ou seja, naquela dicotomia da genética contra o meio, verificamos que o meio pode agir sobre a genética.

Dependendo das experiências que uma criança tenha, a base genética da timidez ou agressão pode ou não ser manifestada. O nosso DNA é como uma coleção de música. Podemos ter músicas que não gostamos na nossa coleção, mas a música que ouvimos depende da música que é tocada.

 

No início de 1990, Michael Meaney, especialista em biologia e neurologia, descobriu algo muito interessante com ratos, que serviu de resposta para este debate da genética contra o meio.

Como os ratos neuróticos e ansiosos tinham filhos também neuróticos e ansiosos, pensava-se que a ansiedade e o neuroticismo eram genéticos, hereditários e fixos. E como os ratos calmos tinham filhos calmos, pensava-se que esse traço também era genético, hereditário e fixo. Mas Meaney, era céptico quanto a esta ideia e quis testá-la.

Meaney colocou os ratos fêmeas que eram ansiosos e neuróticos junto das crias de ratos calmos e colocou os ratos fêmeas que eram calmos junto das crias de ratos ansiosos e neuróticos.

Uma das grandes diferenças entre estas mães, é que aquelas que eram calmas, davam muito mais carinho às crias e lambiam-nas muito mais, como gesto de afeto e de reconforto, enquanto as mães ansiosas e neuróticas não faziam isso.

 

O que aconteceu foi que as crias de ratos neuróticos e ansiosos, mas que foram colocados junto de mães calmas, tornaram-se calmos e curiosos, explorando o meio à sua volta. Por outro lado, as crias de ratos calmos, mas que foram colocados junto de mães neuróticas e ansiosas, ficaram mais ansiosos, hipersensíveis a qualquer som ou gesto e com mais stress.

O que Meaney e os seus colegas descobriram foi que os genes eram expressos pelas experiências de vida iniciais.

O facto do meio influenciar a genética não acontece apenas com ratos. Meaney fez outro estudo, analisando amostras de 36 cérebros: 1/3 de pessoas que se tinham suicidado e sofrido abusos em crianças, 1/3 de pessoas que se suicidaram mas não foram abusadas e 1/3 de pessoas que não se suicidaram.

Ele descobriu que as pessoas que tinham sofrido abuso em crianças e que tiraram a sua vida, tinham o gene responsável pelo sistema de resposta ao stress, desligado, fazendo extremamente difícil de lidarem com as adversidades da vida. A atividade anormal no sistema de resposta ao stress tende a estar ligada ao suicídio. Com esta descoberta feita em 2009, Meaney completou a sua ideia. O abuso que as pessoas sofreram em crianças, ou seja, o efeito do meio, alterou a expressão de genes no cérebro, que prejudicou a capacidade de lidarem com a adversidade, levando a estas pessoas mais vulneráveis ao suicídio.

 

Embora possamos ter uma genética propensa à ansiedade, se formos criados num ambiente carinhoso, seguro, reconfortante e que nos dê ferramentas para lidar com a ansiedade, pode silenciar esse gene e prevenir que tenha um efeito no cérebro e no nosso comportamento.

Então Meaney mostrou que não podemos estar sempre a culpabilizar a nossa genética, a dizer que somos como somos, porque já o meu pai era. O meio influencia de forma determinante na forma como os nossos genes vão ser expressos.

No entanto, podemos ter sido criados numa situação em que o meio não foi o mais seguro e carinhoso. Então, será que isso significa que o nosso destino está traçado? Que a forma como somos criados em criança vai definir a nossa vida? Não. Embora tenha um peso muito forte, o nosso cérebro continua a formar novas ligações neurológicas ao longo da nossa vida, conseguindo então mudar padrões e processos de aprendizagem. A este processo dá-se o nome de neuroplasticidade.

Como tínhamos indicado no início deste artigo, o que devemos reter é que a genética influencia-nos, mas não determina o resultado da nossa vida. As experiências do nosso dia-a-dia, desde da infância e durante a fase adulta, vão ter um impacto muito forte em moldar a nossa forma estar no mundo e como vamos reagir às situações do dia-a-dia.

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