Etiqueta: emoções

#2 Desafio 2020 – Autoestima

Chegamos a Fevereiro, segundo mês do ano e com isso, segundo desafio do ano para desenvolvermos a nossa Inteligência Emocional!

Vamos recordar o primeiro desafio deste ano:

Para este mês, o desafio vai incidir sobre a Autoestima.

Segundo Morris Rosenberg (1965), a autoestima é uma atitude positiva ou negativa em relação ao self. A característica que distingue este conceito de outros é que é visto primariamente como um conceito afetivo, estando baseado num sentimento particular, nomeadamente de valor próprio.

A autoestima pode ser vista como um continuum, estando de um lado uma baixa autoestima e do outro uma elevada autoestima. As pessoas com uma baixa autoestima tendem a experienciar mais emoções negativas, tais como ansiedade, tristeza, depressão, hostilidade, ansiedade social, culpa e vergonha (Leary, & MacDonald, 2003). No entanto, se uma pessoa tiver uma autoestima demasiado elevada, pode demonstrar alguns comportamentos não desejáveis como egocentrismo, narcisismo e até violência (Baumeister, Smart, & Boden, 1996).

Este desafio é então focado nas pessoas que queiram treinar esta competência para aumentar a sua Inteligência Emocional. Se esta competência já estiver muito desenvolvida, poderá até ser contraproducente tentar aumentar mais, tal como indicado anteriormente. O que é em excesso não tende a ser bom.

A autoestima pode envolver uma variedade de crenças, tais como a opinião sobre a nossa aparência, as emoções que temos e os nossos comportamentos. Quando as crenças sobre as nossas competências são limitadoras, podem começar a gerar sentimentos de insegurança e ansiedade e arrastar outras emoções negativas, afetando o nosso valor próprio e a nossa autoestima. Se isto for continuado, o nosso cérebro pode começar a associar estes sentimentos a outras áreas da nossa vida e a insegurança alastra-se ainda mais.

No entanto, aumentar a nossa autoestima não é uma tarefa linear. Parte do problema é que a nossa autoestima é instável, podendo flutuar diariamente e até várias vezes ao longo do dia. Adicionalmente, este conceito agrega os sentimentos globais que temos sobre nós, bem como a forma como nos sentimos em domínios específicos da nossa vida. Por fim, quanto mais significado atribuirmos a um certo domínio da nossa vida, maior é o impacto na nossa autoestima.

Por exemplo, imagina que dás muito valor à forma como cozinhas. Se fizeres um prato e alguém disser que não está bom, a força dos sentimentos negativos será muito maior do que alguém que não atribui tanto significado a esse domínio.

Desafio!

Para o desafio deste mês, cada vez que sentires que falhaste em alguma coisa ou com alguém, substitui a autocrítica pela autocompaixão. Quando o teu diálogo interno crítico entrar em cena, pergunta a ti próprio/a o que dirias a um amigo se tivesse nessa mesma situação. E depois direciona esses comentários a ti próprio/a.

Ao fazeres este exercício, irás evitar causas danos na tua autoestima com pensamentos críticos, ajudando a incrementar a autoestima pouco a pouco.

Bons treinos!

 

Autoestima - Inteligência Emocional

Só Vemos Aquilo Que Queremos Ver

Há uma tendência no ser humano para procurar informação que seja consistente com as suas hipóteses e crenças e evitar a informação que o contrarie e que vá contra aquilo que acredita, ou seja, o ser humano tem um enviesamento para a confirmação.

Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo, disse que o que o ser humano é melhor a fazer, é interpretar toda a nova informação de forma a que as suas conclusões anteriores permaneçam intactas.

Quando temos uma ideia formada, procuramos informação que confirme essa visão, e ao mesmo tempo, ignoramos e rejeitamos informação que possa lançar dúvidas sobre essa ideia. Então, tornamo-nos prisioneiros das nossas crenças, não analisando a informação de forma racional.

Vemos no dia-a-dia inúmeros exemplos do enviesamento para a confirmação. Por exemplo, uma pessoa com uma baixa autoestima, fica sensível ao facto de poder ser ignorada por outras pessoas. Essa pessoa, vai procurar constantemente por sinais que mostrem que as pessoas não gostam dela. E os sinais que mostram o contrário, não vão ser processados da mesma forma. Mesmo um comportamento neutro ou positivo, pode ser reinterpretado de forma a encaixar-se nas crenças que as pessoas não gostam dela. Por exemplo, se alguém sorrir para ela, pode pensar que está a rir dela.

No local de trabalho, este enviesamento também se torna uma autoprofecia. Um líder que pense que o seu colaborador não é dedicado, inteligente ou profissional, vai estar atento à informação que vá ao encontro dessa crença, reforçando a mesma. A informação que não se adapte a essa ideia, será descartada ou mesmo reinterpretada, de forma a encaixar-se na sua crença.

Se projetarmos esta estratégia de enviesamento do cérebro, conseguimos ver o porquê dos debates infrutíferos de vários temas. Se pegarmos no tema quente da ciência contra a religião, vemos como a informação é reinterpretada constantemente à medida de cada crença. A existência dos dinossauros é um bom tema de debate. Por um lado, temos a ciência a indicar através da análise de fósseis, que não é possível que a vida tenha começado com Adão e Eva. Por outro lado, temos a religião a indicar através da Bíblia, que os dinossauros possam ter existido em conjunto com Adão e Eva. Mas mesmo dentro da religião, temos vários tipos de análises, desde alguns que indicam que muitas histórias são metáforas, até outros que utilizam partes da Bíblia para mostrar que já estava tudo escrito. A mesma informação, tem análises diferentes e reinterpretações diferentes, de forma a se ajustarem às nossas crenças.

Um dos motivos que temos este enviesamento, é que o nosso cérebro tem a função de otimizar energia. Aceitar a informação que confirma as nossas crenças, requer pouca energia mental. Por outro lado, contradizer informação, requer um maior esforço e energia mental.

Outro grande motivo, deve-se à necessidade do cérebro em manter uma consistência cognitiva, lutando contra a dissonância cognitiva. A dissonância cognitiva acontece quando existe um conflito entre a informação que recebemos, as nossas atitudes, crenças ou comportamentos. Esta dissonância produz um sentimento de desconforto, levando à alteração das nossas atitudes, crenças ou comportamentos, de forma a reduzir esse desconforto e recuperar a harmonia e consistência cognitiva.

Este efeito de dissonância cognitiva foi investigado primeiro pelo psicólogo Leon Festinger, em 1957. Ele observou um culto que acreditava que a terra seria destruída, vendo vários membros a despedirem-se dos seus empregos e até a deixarem as suas famílias. Quando se verificou que o mundo não tinha sido destruído, aqueles crentes mais comprometidos não analisaram a situação de forma racional, apercebendo-se que tinham sido enganados. Por outro lado, eles reinterpretaram a informação, para confirmar que estavam certos. Para eles, a terra não tinha sido destruída, por causa da sua fé inabalável. O mundo foi salvo graças a eles.

Esta observação foi um ponto chave para que Festinger elaborasse a teoria da dissonância cognitiva, que nos mostra um dos motivos pelo qual temos o enviesamento para a confirmação.

Mas não é isso que nós acreditamos. Se perguntarmos às pessoas se analisam a informação de forma enviesada, reinterpretando a mesma com base naquilo que acreditam, a maior parte irá dizer que não, que isso é ridículo. Vemo-nos como pessoas inteligentes e racionais.

Então como é que reduzimos este enviesamento? O primeiro passo, é admitir que o fazemos, ganhando consciência sobre ele. E depois, podemos reduzir o nosso enviesamento, se abordarmos a vida com curiosidade. Em vez de tentarmos provar que temos razão em todas as interações, devemos focarmo-nos em experienciar e viver a vida com curiosidade. Quanto estamos dispostos a estar errados, abrimo-nos a novas ideias e aprendizagens e aumentamos a nossa flexibilidade mental.

Carol Dweck, psicóloga da Universidade de Stanford, fez um estudo com dois grupos de crianças numa escola. O primeiro grupo devia evitar problemas difíceis, porque tinha um risco elevado de errarem. O segundo grupo, devia ativamente abordar esses problemas e encará-los como uma oportunidade de aprendizagem, mesmo que falhassem. O estudo revelou que o segundo grupo superou o primeiro consistentemente.

O enviesamento de confirmação é uma parte inevitável de como tomamos decisões. É um traço evolutivo e como o nosso cérebro opera. Mas se estivermos consciente que temos este enviesamento e focarmo-nos em viver a vida com curiosidade em vez de tentarmos ter sempre razão, vamos conseguir tomar decisões muito mais benéficas e saudáveis, para nós e para os outros.

Devemos Suprimir as Emoções?

Ninguém gosta de experienciar emoções negativas. Pensamos que as emoções negativas são emoções “más”, que deviam ser exterminadas. A tristeza, a raiva, o nojo e outras semelhantes, fazem-nos sentir mal. O nosso corpo reflete isso e a nossa mente também. Mas não existem boas ou más emoções, o que existem são emoções negativas ou positivas. E mesmo as negativas servem um propósito e podem ser construtivas.

No entanto, como não queremos experienciar essas emoções e muitas vezes não queremos expressá-las, temos por hábito utilizar uma forma de autocontrolo que pensamos que é a mais acertada: suprimir as emoções.

A supressão emocional pode ser benéfica em situações em que pode ser inapropriado exprimirmos aquilo que realmente sentimos. Suprimir emoções e os nossos comportamentos em algumas situações, pode ajudar-nos em algumas resoluções de problemas, em atingir objetivos ou mesmo em desconstruir um possível confronto. Em certas situações, não suprimir emoções, pode agravar ainda mais o resultado.

No entanto, a supressão emocional apenas deve ser utilizada em situações pontuais, em que o nosso comportamento pode afetar ainda mais a situação. Tirando essas situações, suprimir emoções de forma habitual pode trazer uma série de problemas.

Alguns estudos mostram que as pessoas que utilizam a supressão emocional habitualmente, reportam sentir maiores níveis de emoções negativas, menor satisfação com a vida e menos satisfeitas com os seus relacionamentos. Ao suprimirmos emoções, estamos a evitar expressar aquilo que nos aflige, limitando a nossa comunicação. E a falta de comunicação faz com que as situações não fiquem resolvidas, prejudicando os relacionamentos. Adicionalmente, embora o intuito da supressão emocional seja de reduzir a excitação emocional, o que tende a fazer é o oposto, aumentando a resposta do sistema nervoso simpático, colocando o nosso corpo mais tenso e excitado e aumentando a ativação na amígdala e noutras regiões responsáveis pela ativação das emoções.

A longo prazo, suprimir emoções traz consequências desastrosas para o nosso organismo, afetando o nosso sistema imunitário, ficando mais propensos a contrair uma série de problemas de saúde. Nas últimas décadas, tem-se estudado mais o impacto da supressão das emoções na nossa saúde e vários estudos apontam para uma associação entre a inibição da raiva e hostilidade e a hipertensão e a doença cardíaca coronária. (Appel, Holroyd, & Gorkin, 1983)

Habitualmente esta técnica é mais utilizada pelos homens, pois em muitas culturas, o homem não é educado desde cedo a partilhar os seus sentimentos, optando por suprimir os mesmos. “Homem que é homem não chora”, “O homem tem que ser sempre forte”, “Tens que aguentar e não podes chorar, se não mostras que és fraco”, são algumas frases típicas que ainda em crianças, os indivíduos do sexo masculino vão ouvindo. Então, quando estão perante uma emoção negativa, utilizam a técnica que lhes foi ensinada: suprimir.

Um exemplo normal é nas discussões. A mulher tende a expressar mais as suas emoções e sentimentos e o homem perante uma situação emocional, tem mais tendência em utilizar o stonewalling, que significa “muro de pedra”. Este nome dá-se pelo facto que o homem fica quieto e calado, não falando sobre a situação, quase como se levantasse um muro de pedra. Esta forma de proteção é prejudicial para a relação, pois aumenta a irritabilidade do parceiro e faz com que não haja comunicação, não sendo possível tentar resolver o problema. Além de prejudicar a comunicação, esta forma de defesa é uma supressão emocional, impactando a saúde de quem o pratica.

Então, devemos utilizar a supressão emocional apenas em situações que não é adequado expressar o que queremos e que devemos controlar mais os nossos comportamentos. No entanto, não é algo a ser utilizado habitualmente, ou trará consequências negativas para as nossas relações e para a nossa saúde.

Appel, M. A., Holroyd, K. A., & Gorkin, L. (1983). Anger and the etiology and progression of physical disease. In L. Temoshok, C. van Dyke, & L. Zegans (Eds.), Emotions in health and illness: Theoretical and research foundations (pp. 73-87). New York: Grune & Stratton.

#4 Desafio 2018 – Resiliência

Chegamos ao mês de Abril e é tempo de lançarmos o nosso 4º desafio mensal para desenvolver a nossa Inteligência Emocional!

Os outros três desafios mensais, foram os seguintes:

Este mês o desafio é sobre a Resiliência, uma categoria que trabalhamos no treino da Inteligência Emocional. 

A Resiliência é a capacidade de um indivíduo se adaptar perante uma situação adversa. Em vez de se deixarem ir abaixo perante os obstáculos que a vida lhes joga, as pessoas com uma maior resiliência conseguem recuperar e voltar mais fortes do que antes. Os psicólogos têm vindo a estudar este tema há várias décadas, não existindo uma única definição ou um único factor que envolve a Resiliência. No entanto, as pessoas que têm uma atitude mais positiva perante a vida, são mais otimistas, regulam melhor as suas emoções e olham para o falhanço como uma forma de feedback em vez como uma derrota final, tendem a apresentar uma maior resiliência.

Joshua J. Marine disse “Os desafios são o que fazem a vida interessante; ultrapassá-los é o que dá significado à vida.”. Esta é uma visão de alguém resiliente. Quando somos confrontados com um problema, a maioria das pessoas olha para o problema como um ataque a elas, como algo que está a impedi-las de avançar e de conseguirem o que querem. Esta mentalidade dá mais intensidade ao problema e prejudica o seu progresso, enfraquecendo a sua resiliência.

Vamos imaginar que uma pessoa no seu emprego recebe uma crítica do seu chefe sobre o seu desempenho. Se essa pessoa olhar para a crítica como uma problema, como uma crise, então vai sentir raiva do seu chefe e pode prejudicar o esforço necessário à melhoria do trabalho. Se, por outro lado, analisar a crítica e ver em como pode melhorar e ultrapassar, vai gerar um estado de maior energia e motivação, que vai ser empregue na melhoria do seu trabalho, saindo mais forte dessa situação. A nossa interpretação da situação vai invariavelmente afetar o nosso comportamento e consequentemente, o nosso resultado.

Com isto em mente, vamos lançar o desafio do mês de Abril!

O nosso dia-a-dia encontra-se repleto de situações com uma carga emocional mais elevada. No entanto, a mesma situação pode ser encarada como uma crise para um indivíduo ou como um desafio para outro indivíduo. Diferentes interpretações, geram diferentes respostas emocionais, que geram diferentes comportamentos.

Durante esta semana, quando te deparares com uma situação mais adversa, pensa nos seguintes pontos:

  • Eu estou a interpretar esta situação como uma crise ou como um desafio?
  • O que é que posso fazer para influenciar esta situação?

Bom treino!

 

 

#3 Desafio 2018 – Exercício Físico

Chegamos ao mês de Março e é tempo de lançarmos o nosso 3º desafio mensal!

Os outros dois desafios foram os seguintes:

Este mês o desafio não é sobre uma categoria específica da  Inteligência Emocional, mas sobre algo que também impacta (e muito) a nossa capacidade de gerir emoções. O desafio deste mês é o Exercício Físico.

O exercício físico tem benefícios tremendos na nossa capacidade cognitiva, motora e bem-estar. O nosso foco e memória melhora com a prática de exercício físico. Na Holanda, estudantes que praticaram exercício físico aeróbico durante períodos diários de 20 minutos, melhoraram a sua capacidade de atenção.

Num estudo publicado no Journal of Alzheimer’s Disease, Ozioma Okonkwo, professor assistente de medicina na Universidade de  Wisconsin, seguiu 93 adultos que tinham pelo menos um familiar com a doença de Alzheimer, um gene ligado ao Alzheimer ou ambos. As pessoas no estudo que passaram no mínimo 68 minutos por dia fazendo exercício físico moderado, mostravam sinais de um cérebro mais saudável, comparado aos que não faziam exercício físico. Além de ajudar a prevenir doenças, Okonkwo também mostrou que as pessoas que praticam exercício físico, têm um maior volume cerebral em regiões associadas ao raciocínio e função executiva. Uma prova forte que a prática de exercício físico é um parceiro forte da Inteligência Emocional.

Para termos uma correta gestão das nossas emoções, precisamos de ter as nossas capacidades cognitivas com o melhor desempenho possível e a prática de exercício físico melhora essas capacidades.

O exercício físico pode ser aeróbico ou de resistência. Os estudos incidem mais sobre o exercício aeróbico, que é o que tende a apresentar melhores benefícios no geral. No entanto, os especialistas indicam que a mistura entre ambos é a melhor opção.

Existem várias formas de praticar exercício físico, desde caminhadas, natação, aulas em grupo, entre outras. Este mês, para facilitar este processo, recomendamos que analises o teu dia-a-dia e penses onde podes aumentar a prática de exercício físico, inserindo-a no teu quotidiano, sem requerer um esforço adicional. Se trabalhas ou vives num prédio, tenta utilizar mais as escadas. Se vais a pé para o trabalho, tenta um percurso alternativo maior. No almoço, dá uma caminhada após a refeição. Utiliza alternativas que te façam aumentar a atividade física em alguns minutos. Desta forma, fazemos uma mudança quase imperceptível mas conseguimos sentir alguns resultados.

Bom treino!

 

 

A Importância da Inteligência Emocional nos Relacionamentos

Nós somos seres sociais, foi assim que evoluímos desde nos nossos antepassados caçadores-recolectores até os dias de hoje. Não somos uma ilha, pois vivemos rodeados de pessoas, amigos, familiares e parceiros amorosos e devemos fomentar essas relações, não só pelo óbvio facto de que precisamos de relações intrapessoais para comunicar e conseguir alcançar aquilo que queremos, mas também porque a qualidade dos nossos relacionamentos está diretamente relacionada à nossa felicidade e também à nossa saúde. Ao não trabalharmos os nossos relacionamentos, caminhamos em direção ao isolamento social e isso tem consequências desastrosas. Estudos realizados durante mais de duas décadas, envolvendo mais de 37.000 participantes mostraram que o isolamento social, isto é, aquele sentimento de que não temos ninguém com que possamos desabafar e partilhar os nossos sentimentos, duplicava a hipótese de doença ou morte.1

 

Outro estudo científico, feito em 1987, indicou que o isolamento é tão significante para a taxa de mortalidade, como fumar, uma elevada pressão arterial, elevado colesterol, obesidade ou a falta de exercício físico. O mais impressionante é que este estudo indica que fumar aumenta o risco de mortalidade num fator de 1,6, enquanto o isolamento social aumenta o risco num fator de 2,0, tornando-o no maior risco para a nossa saúde. No entanto, atualmente damos muita importância ao tabagismo, obesidade, pressão arterial e colesterol e tão pouca importância aos nossos relacionamentos. Curiosamente, quando vamos ao médico, ele não nos pergunta como estão os nossos relacionamentos e não nos dá indicações de como trabalhá-los e fomentá-los, de como fomentá-los, embora esta prática também tenha um enorme impacto na nossa saúde.Uma parte vital da inteligência emocional são os nossos relacionamentos. Se tivermos laços mais fortes, vamos-nos sentir mais felizes, a nossa saúde vai melhorar e conseguiremos atingir o sucesso pessoal e profissional mais facilmente.

 

Um estudo feito a 100 pacientes de transplante de medula óssea mensurou o poder de ter laços pessoais fortes. Entre os pacientes que sentiam que tinham um forte suporte emocional do seu parceiro, família ou amigos, 54% sobreviveu aos transplantes após dois anos, em comparação com 20% daqueles que reportaram que sentiam que tinham pouco suporte.É impressionante o que fomentarmos bons relacionamentos faz ao nosso bem-estar e própria longevidade. Somos um ser social e não podemos descurar essa parte. Cada vez mais com o uso das tecnologias, tem-se perdido o contacto social mais direto, partilhar experiências, olhar nos olhos, mostrar interesse pelo outro. E ao mesmo tempo, cada vez mais existem pessoas que reportam sentir maior infelicidade, níveis de depressão e ansiedade. Sim, existem vários fatores que influenciam estes dados, mas a qualidade dos relacionamentos pessoais é um dos fatores fortes.

 

Os nossos relacionamentos impactam todos à nossa volta. Logo, uma outra vantagem de trabalharmos os nossos relacionamentos é o impacto positivo que irá ter nas crianças, isto para aqueles que são pais. Muitas vezes não nos apercebemos, mas o nosso comportamento influencia o dos nossos filhos. Quando são novos, os nossos filhos utilizam a observação para aprenderem comportamentos para depois eles próprios utilizarem no futuro. Se as crianças tiverem pais que se relacionem bem entre eles, que se relacionem bem consigo próprios e que os apoiem emocionalmente, então mais provavelmente vão repetir esse comportamento no futuro. Existem inúmeros estudos que demonstram que, os métodos utilizados pelos pais para educarem os filhos, seja com “mão pesada” ou com entendimento e empatia, com indiferença ou carinho, têm grandes e longas consequências na vida emocional da criança.

Carole Hooven e John Gottman, da Universidade de Washington, fizeram microanálises com base nas interações entre casais e como estes lidam com os filhos e descobriram que aqueles que eram mais competentes emocionalmente no seu casamento também eram mais eficazes em ajudar os seus filhos nos seus altos e baixos emocionais.

 

A inteligência emocional ajuda-nos a entender como devemos fomentar e potenciar os nossos relacionamentos pessoais. As relações requerem esforço, compromisso e entender o outro lado. Se apenas fizermos o que nos apetece no momento, sem ter em consideração o outro lado, vamos deteriorar a qualidade dos nossos relacionamentos. É importante entender que as relações constroem-se e que a qualidade dessa construção depende de nós.

 

1. Medical risk of social isolation: James House et al., “Social Relationships and Health,” ScienceQuly 29,1988)

2. House, “Social Relationships and Health”

3. Strain, “Cost Offset.

#2 Desafio 2018 – Autoestima

Chegamos ao mês de Fevereiro e é tempo de lançarmos o nosso 2º desafio mensal!

O mês passado lançamos o desafio sobre Consciência Emocional. Este mês vamos lançar um desafio sobre a Autoestima. A autoestima também é uma componente importante para desenvolvermos a nossa Inteligência Emocional.

A autoestima reflete a avaliação de uma pessoa sobre ela própria. É um julgamento que faz sobre as suas capacidades e sobre o seu valor, englobando crenças e estados emocionais. Esta capacidade é muito importante para obtermos um maior sucesso pessoal e profissional.

Vários estudos têm sido feitos sobre a relação entre a autoestima e os nossos relacionamentos amorosos. Em geral, a evidência desses estudos sugere que uma autoestima elevada é benéfica para os relacionamentos e inclusive que tem um efeito positivo na felicidade do parceiro.

Não só a autoestima é importante para o nossos relacionamentos, como também para o nosso sucesso académico e profissional. Foi feito um estudo com 200 estudantes de uma escola primária, tendo mostrado que a autoestima, a orientação para objetivos e desempenho académico estavam correlacionados.

A autoestima divide-se em várias partes e existem várias teorias sobre como é que esta se forma. Mas uma das coisas que tende a ser unânime, é que a autoestima constrói-se através do nosso discurso interno, da história que contamos a nós próprios. Todos nós temos uma história que contamos a nós próprios diariamente e que vai moldando a perceção e imagem que temos sobre nós próprios, afetando a nossa autoestima.

Então o nosso desafio vai incidir sobre essa parte. Durante este mês, muda a tua história interior. Cada vez que te deparares com um pensamento distorcido, pensa num argumento para contrariares esse pensamento. E por cada pensamento negativo que vier à mente, pensa em algo positivo, de forma a equilibrar a carga emocional dessa história. É um treino desafiante e vai ser difícil ao início, mas cada dia que passar vai tornar-se mais fácil.

 

 

#1 Desafio 2018 – Consciência Emocional

Depois do ano passado termos lançado 12 desafios mensais para quem nos acompanha poder desenvolver a sua Inteligência Emocional, decidimos continuar e lançar novos desafios para 2018!

Vamos trabalhar as mesmas categorias de Inteligência Emocional, mas com novos desafios dentro de cada categoria.

Este mês de Janeiro, vamos treinar a nossa Consciência Emocional!

E porquê? Porque é o primeiro mês do ano, quando iniciamos um novo ciclo, quando as pessoas fazem resoluções para o ano novo, quando a motivação está no auge e as pessoas querem implementar mudanças na sua vida. E o primeiro passo para mudarmos algo, parte sempre da nossa Consciência.

A Consciência Emocional é a capacidade de reconhecermos os nosso estados emocionais, percebermos os nossos pontos fortes e pontos fracos e conhecermos-nos bem. Os nossos estados emocionais são influenciados por aquilo que pensamos e fazemos.

Para este primeiro mês de 2018, lançamos um desafio de auto-reflexão. Durante este mês, no final do dia, reflete sobre as vezes em que reagiste mais negativamente com uma “explosão” e que tiveste uma atitude mais negativa.

Apenas isso, refletir sobre o teu comportamento. Esta reflexão não tem como objetivo a culpabilização ou punires-te pelo teu comportamento, mas apenas refletires sobre o motivo que pode ter levado a reagires dessa forma.

Para facilitar o trabalho de auto-reflexão, podes utilizar as seguintes perguntas:

  • O que é que tinha acontecido antes de eu reagir assim?
  • É normal eu reagir desta forma?
  • O que me levou a reagir assim?
  • O que é que eu ganhei com esta atitude?
  • Como é que isso me afetou?
  • O que é que posso fazer diferente na próxima vez?

Um dos grandes filósofos de todos os tempos e considerado o avô da filosofia para muitos, foi Sócrates. Ele dizia que a verdade estava em cada um de nós e que era questionando as coisas que conseguiríamos chegar à verdade. Então é necessário questionarmos os nossos comportamentos, para chegarmos à verdade das nossas reações. Se não entendermos porque é que reagimos como reagimos, torna-se difícil implementar alguma mudança. Mas quando entendemos melhor as nossas atitudes, torna-se mais fácil mudá-las.

Bom treino!

 

Reclamar: O Impacto Negativo em Nós e nos Outros

Reclamar.

Parece que cada vez é mais comum vermos pessoas a reclamarem à nossa volta. Reclamar do tempo, do trabalho, das relações, de cada notícia que sai. Mas qual a vantagem disto? Porque é que se vê tantas pessoas a reclamar tanto? Se perguntarmos a algumas pessoas porque é que reclamam tanto, a resposta que tende a ser mais comum é que devemos ter uma voz ativa naquilo que está mal na sociedade e devemos verbalizar o que não gostamos. Mas até que ponto é que isso nos ajuda ou ajuda os outros? Vamos então ver.

Começando por nós, cada vez que estamos a reclamar mais intensamente, entramos em stress. Ficamos mais incomodados, irritados e o nosso corpo começa a ter reações fisiológicas. Sentimos-nos mais quentes, o ritmo cardíaco acelera, a respiração fica mais ofegante e os nossos pensamentos cada vez mais acusatórios. E isso tem algum impacto na nossa saúde?

Robert Sapolsky, é um dos neuroendocrinologistas mais conhecidos do mundo, trabalhando como investigador na Universidade de Stanford. Sapolsky tem feito vários estudos sobre o impacto do stress na nossa saúde e descobriu que o stress tem vários efeitos negativos no nosso cérebro, nomeadamente no nosso hipocampo 1,  que é uma região associada à memória a longo prazo e muito importante na nossa regulação emocional. Se experienciarmos stress contínuo, começa a existir morte neuronal no hipocampo, impactando o nosso cérebro e a nossa saúde. Se tivermos em conta que a reclamação crónica pode aumentar o nosso stress, percebemos o impacto negativo que esta forma de estar na vida nos traz.

Além do impacto negativo em nós, a reclamação também tem um impacto negativo nos outros. Existe um conceito que é o “contágio emocional”, que indica que as nossas emoções e comportamentos influenciam as emoções e comportamentos dos outros. Então, quando temos tendência a reclamar, estamos a influenciar os outros nesse sentido, levando a que os mesmos também possam experienciar mais emoções desagradáveis e stress, impactando também a sua saúde.

Isto significa que devemos estar sempre calados e nunca reclamar? Claro que não. Existem, genericamente, 3 tipos de reclamações que as pessoas tendem a adotar, sendo que quando quisermos reclamar, o mais saudável é adotar o 3º tipo, que indicamos em baixo:

 3 tipos de reclamações:

  1. Aqueles que reclamam cronicamente, diariamente, constantemente. Esta reclamação constante cria padrões neurológicos, que reforçamos, tornando-nos reclamadores crónicos. Isto tira-nos o controlo sobre os eventos da nossa vida, impactando negativamente a nossa saúde e de quem está à nossa volta.
  2. Aqueles que reclamam em situações para mostrar o seu ponto de vista sobre um assunto. No entanto, regra geral, estas pessoas não querem receber conselhos ou soluções. Querem apenas descarregar. Só que quando descarregamos algo em alguém, a outra pessoa passa a carregar isso.
  3. Os que reclamam de forma construtiva. Embora possa ser utilizada outra abordagem, esta é de todas as reclamações, a única que realmente pode trazer algum benefício. Queixarmos-nos que está quente, não ajuda em nada. Mas queixarmos-nos sobre uma situação que não está bem no trabalho ou em casa, de forma a expressamos a nossa insatisfação e com isso procurarmos uma solução, já se torna uma reclamação mais produtiva. No entanto, este é o modo de reclamação menos utilizado.

Da próxima vez que te apetecer reclamar, pensa se é realmente necessário. E se for, tenta adotar a forma construtiva.

 

1. Sapolsky, R. M. (1996). Stress, Glucocorticoids and Damage to the Nervous System: The Current State of Confusion. Department of Biological Sciences, 1 (1), 1-19. Doi:10.3109/10253899609001092

#12 Desafio 2017 – Otimismo

No início deste ano, decidimos lançar desafios mensais para todos aqueles que querem desenvolver a sua Inteligência Emocional. Chegamos ao mês de Dezembro e ao último desafio de 2017. Vamos terminar com um desafio para a categoria Otimismo.

 

Recapitulando os últimos 11 desafios:

 

O otimismo é algo que é muito falado. Mas será que existe algum benefício em trabalharmos o otimismo?

Martin Seligman, psicólogo Norte-Americano e Ex-Presidente da Associação Americana de Psicologia, é considerado o pai da Psicologia Positiva, tendo sido responsável por inúmeros estudos que mostram o poder o otimismo na nossa saúde e bem-estar.

Em meados dos anos 80, Martin Seligman e Gregory Buchanan acompanharam 120 homens que tinham sofrido um ataque cardíaco, tendo sido medida a extensão da lesão no coração, pressão arterial, colesterol, massa corporal e estilo de vida – todos os fatores de risco tradicionais para as doenças cardiovasculares. Além disso, todos os homens foram entrevistados sobre outros fatores como: família, emprego e passatempos. Depois, através de questionários, classificaram os homens como otimistas e pessimistas.
Passados oito anos e meio, metade dos homens tinham morrido de um segundo ataque cardíaco. Nenhum dos fatores de risco usuais previu a morte. (Seligman & Buchanan, 1993)

Só o otimismo, oito anos e meio antes previu o segundo ataque cardíaco. Dos dezasseis homens mais pessimistas, quinze morreram e dos dezasseis homens mais otimistas, apenas cinco morreram. Esta descoberta foi repetidamente confirmada em grandes estudos sobre doenças cardiovasculares, que utilizaram várias medidas de otimismo. 1

Mas como é que o otimismo é um fator tão forte que pode impactar até a nossa sobrevivência. Existem algumas vias biológicas possíveis. Uma delas é o sistema imunitário. Judy Rodin, Leslie Kamen, Charles Swyer e Martin Seligman, colaboraram em 1991 num estudo em que recolheram amostras de sangue a idosos pessimistas e otimistas e depois testaram a resposta imunitária. O sangue dos otimistas reagia de forma mais energética às ameaças, produzindo mais glóbulos brancos, ou linfócitos T, para combater as infeções – do que os pessimistas. 2

Existem muitas evidências científicas que comprovam o poder do otimismo. Os eventos mais negativos que nos deparamos no dia-a-dia são apenas isso: eventos. No entanto, nós temos a capacidade de colocar carga emocional nesses eventos, influenciando a nossa resposta emocional e consequentemente a nossa saúde. Existem muitos poucos eventos negativos na vida que realmente não podemos olhar de uma forma otimista. Mas existe uma tendência generalizada para que qualquer evento mais problemático, seja transformado numa catástrofe. E dessa forma, ficamos com uma visão mais pessimista, prejudicando o nosso comportamento e como já vimos, a nossa própria saúde.

O desafio deste mês é muito simples mas extremamente poderoso para desenvolvermos a nossa Inteligência Emocional. Podes ver o desafio na imagem em baixo.

Bons treinos!

1. G.M. Buchanan e M.E.P. Seligman, “Explanatory Style and Heart Disease”, in Explanatory Style, eds. G.M. Buchanan e M.E.P. Seligman, Hillsdale,NJ,Erlbaum,1995, pp. 225-32.

2. L. Kamen-Siegel, J. Rodin, M. E. P. Seligman e J. Dwyer, “Explanatory Style and Cell-Mediated Immunity in Elderly Men and Women”, Health Psychology 10, 1991, pp. 229-35.

 

 

 

 

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