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Os efeitos da pressão e como geri-la

Estudantes do Seminário Teológico de Princeton foram alvo de uma experiência sem saberem. Numa manhã, disseram ao grupo que teriam de dar uma palestra no outro lado do campus.

Um dos grupos, teria de falar sobre opções de emprego num seminário (Grupo 1), enquanto o outro teria de dar um sermão sobre a parábola do Bom Samaritano, que é a parábola que conta a história do homem que ajuda um estranho na estrada (Grupo 2). Só que não havia nenhum seminário.

Os investigadores queriam ver quem iria parar e ajudar um estudante que estava a precisar de ajuda no meio do caminho. O estudante estava caído numa porta, a gemer e a tossir. A metade de cada grupo foi dito que estavam atrasados para o seminário o à outra metade disseram que estavam com tempo. Então, metade tinha pressão de tempo e a outra metade não.

Poderíamos pensar facilmente que aqueles que iriam dar um sermão sobre a parábola do Bom Samaritano iam parar mais, pois a mensagem que iam passar refletia a situação que estava a acontecer.

Mas será que foi isso que aconteceu? Não.

No final, os estudantes que iam dar o sermão do Bom Samaritano não pararam e ajudaram mais que o outro grupo. A variável que fez a maior diferença foi sentir a pressão do compromisso.

Dos estudantes que estavam com tempo e não sentiram a pressão, 63% parou para ajudar o colega. No grupo que foi dito que estavam atrasados, apenas 10% parou para ajudar! Alguns até passaram por cima do colega enquanto estavam a acelerar.

Então, a pressão tem potencial para alterar o nosso comportamento.

Alguém que tenha boas intenções e que goste ou queira ajudar pessoas, pode ser vítima dum comportamento contrário às suas intenções, se tiver pressionado o suficiente.

O cortisol é uma hormona importante na nossa reação sobre pressão. Um dos fatores principais é que afeta a nossa capacidade de pensar e recuperar a nossa memória. Demasiado cortisol leva à ansiedade, comummente chamada como “ansiedade antecipatória”, que suprime a produção de testosterona.

A testosterona serve para aumentar os níveis de confiança e dar mais vigor ao comportamento. Na ausência de testosterona, o comportamento de aproximação diminui e a nossa atenção fica seletivamente focada nos aspetos negativos da situação, fazendo-nos ver todos os estímulos no ambiente como ameaçadores. Ficamos mais paranoicos e amplificamos o negativo. Para a sobrevivência dos nossos antepassados, era excelente. Para os desafios sociais, nem tanto.

Além do aspeto moral da pressão, o nosso desempenho também é afetado.

Alguns estudos têm vindo a mostrar o que a pressão faz em duas partes do cérebro que alberga dois tipos diferentes de memória: a memória de trabalho e a memória implícita.

A memória de trabalho tem uma capacidade limitada para albergar informação. Aqueles indivíduos que conseguem colocar lá mais informação, têm uma maior vantagem.

Quando a memória de trabalho é interrompida, o nosso desempenho também o é, especialmente se a tarefa que estamos a executar está dependente de pensamento deliberado, tal como resolver um problema matemático ou memorizar informação. Esta memória está situada no córtex pré-frontal.

A memória implícita, por outro lado, não está acessível conscientemente e é responsável por coordenar atividades motoras para desempenhar ações complexas. Está localizada no cerebelo, uma região subcortical.

Mas embora sejam tipos distintos de memórias, também estão interligadas: por exemplo, para tocar piano utilizamos primeiro a memória de trabalho. Mas com mais prática, a complexidade da tarefa torna-se automática, passando para a memória implícita. Quando fica na memória implícita, fazemos sem consciência, fazemos em piloto automático.

Então como é que a pressão afeta estes dois tipos de memória e como é que isso prejudica o nosso desempenho?

Memória de trabalho: Imagina que vais ter uma reunião com um cliente e começas a pensar sobre as reações do cliente e o que ele pode estar a pensar. Esses pensamentos ocupam espaço na nossa memória de trabalho que estamos a utilizar para ir buscar informação. O espaço desaparece e também a informação. Ficamos mais nervosos e atrapalhados, focamos mais no negativo, ocupando mais espaço na memória de trabalho e prejudicando a nossa reunião.

Memória implícita: Imagina que estás a jogar ténis e que jogas bem, de forma automática, sem pensar nos movimentos. No entanto, num jogo importante, começas a pensar na posição das mãos e nas tacadas. De repente, falhas mais. Quando pensamos de forma consciente em comportamentos automáticos, pioramos o nosso desempenho. Nos jogos ouve-se muito quando os atletas falham e estão sob pressão “Está a pensar demasiado”.

Então qual é a solução?

Quando somos inexperientes em algo e temos pouca prática, devemos concentrarmo-nos na mecânica dos movimentos. No entanto, quando já sabemos fazer as coisas bem, não nos devemos concentrar na mecânica.

Atenção ao contraste necessário para gerir a pressão:

• Abrandar o desempenho e focar na mecânica de uma competência bem ensaiada, funciona contra nós.

• Abrandar o desempenho numa tarefa que requeira decisão e competências de resolução de problemas, ajuda-nos.

Outra forma de lidar com a pressão é mudar a forma como avaliamos a situação.

O processo mental que nos ajuda a definir aquilo que está a acontecer a nós ou ao nosso redor é chamado de avaliação cognitiva. É o processo que tentamos fazer sentido do mundo à nossa volta e as situações que enfrentamos.

A pergunta mais importante que deparamos quando estamos sob pressão é: “Eu vejo esta situação como uma crise ou um desafio?”

Uma das mais subtis formas que a pressão influencia o nosso cérebro e comportamento é alterando o nosso pensamento e distorcendo como vemos os eventos.

Muitas pessoas acreditam que como veem os eventos é estático, que não muda. Isto não é verdade.

Como vemos uma situação muda e a pressão é um dos maiores influenciadores para que isso aconteça.

É por isso que posso ter uma má avaliação de um trabalho na 2ª feira e irritar-me, mas na 6ª feira já não ligo tanto. Ou tenho uma multa no fim do dia e fico zangado, mas no dia seguinte não ligo tanto. O que mudou é como avaliei o evento (emoção influencia): “Isto não é justo!”, mudou para “Bem, realmente estava mal-estacionado”.

O facto positivo é que podemos mudar a avaliação de uma situação, permitindo regular a pressão da experiência.

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